23/04/2017

10 livros sobre direitos dos animais



Para celebrar o Dia Mundial do Livro, aqui fica uma pequena lista de obras que discutem os paradigmas e problemas que rodeiam a questão dos direitos dos animais. Mesmo para quem não se interesse por este assunto de cariz moral e ético, deixo o desafio aberto para a leitura de, pelo menos, um dos exemplares presentes.


1. Animal Liberation 
(PT: Libertação Animal)
Autoria  Peter Singer
Data da primeira publicação 1975

Livro (português)
PDF (português)

Vou ser sincera: não gosto do Peter Singer por este ser utilitarista e, por isso, fechar os olhos quando o bem-estar dos animais é tido em conta mesmo que a intenção última seja matá-los. Essa ideologia é totalmente antropocêntrica e não protege, de forma alguma, os interesses dos próprios animais (que é o interesse de viver), distanciando-se do veganismo abolicionista. No entanto, tenho de dar a mão à palmatória a este livro: apesar de ter mais de 40 anos continua actual e oferece bastante informação sobre o assunto. Ademais, também foi com Singer que o termo especismo (criado por Richard D. Ryder, um psicólogo e defensor dos animais) foi visibilizado, o que ajudou a designar as nossas acções discriminatórias para com os animais. Libertação Animal torna-se, assim, numa obra de leitura obrigatória.


2. Empty Cages: Facing the Challenge of Animal Rights
Autoria Tom Regan
Data da primeira publicação 2004

Livro (inglês)
PDF (português do Brasil)

Tom Regan dedicou este livro a todos os indivíduos que questionam a liberdade humana e como esta é usada para infligir dor e sofrimento aos animais, privando-os assim de direitos fundamentais. Inserido numa filosofia moral abolicionista, como o título sugere, o autor defende totalmente o fim do aprisionamento e exploração de animais, rejeitando assim qualquer vínculo bem-estarista que muitos de nós insistimos em perpetuar nos nossos hábitos.
Vários temas são discutidos ao longo da obra: desde a caça desportiva, passando pelos rodeios, touradas e corridas de cães, Regan pretende passar uma mensagem de luta pela paz, algo que é somente concebível quando deixarmos de olhar para os restantes seres como inferiores.
O filósofo americano também desmascara a manipulação publicitária das indústrias que exploram animais, visto que estas dizem o que as pessoas querem ouvir que o tratamento administrado aos animais é humano e o bem-estar é escrupulosamente respeitado. Ainda hoje podemos assistir a esse tipo de persuasão, desde a política bem-estarista que as grandes empresas declaram apoiar, bem como nos próprios anúncios televisivos.


3. The Sexual Politics of Meat: A Feminist-Vegetarian Critical Theory
Autoria Carol J. Adams
Data da primeira publicação 1990

Livro (inglês)
PDF (português do Brasil)

Apesar de não ser propriamente um livro sobre veganismo, a sua leitura é essencial para compreender as influências presentes de uma sociedade patriarcal, tanto nos hábitos alimentares culturalmente impostos como a relação dessa mesma sociedade para com as mulheres e os animais. Numa abordagem eco-feminista, Carol J. Adams defende que a matança de animais e a violência contra a mulher estão intrinsecamente ligadas, visto que tanto uma como a outra participam da ideia de masculinidade.
Espinosa escreveu, na sua Ética, que a lei contra a matança dos animais é baseada mais na superstição vazia e numa compaixão feminina do que propriamente na razão. Este pensamento continua bastante enraizado na nossa sociedade notoriamente patriarcal: ser empático e sensível é associado automaticamente ao sexo feminino, tanto por este ser considerado o mais fraco dos dois sexos, como pelas características opostas (agressividade, insensibilidade, etc) serem usadas para descrever o sexo masculino e, ainda, justificar os seus comportamentos. Um exemplo é a afirmação de que o homem é tipicamente predador e, por isso, é normal que assedie agressivamente as mulheres. E de que um homem, quando trata mal uma mulher, é sinal de que gosta dela e que se preocupa com ela. A violência foi, deste modo, banalizada e considerada própria da natureza masculina, estendendo-se aos próprios hábitos alimentares. Prova disso é a conexão cultural feita entre ser macho e comer carne, enquanto as mulheres preferem alimentos mais leves. O próprio veganismo denuncia essa reflexão cultural, visto que o número de mulheres veganas ultrapassa despreocupadamente o dos homens veganos.
Para além disso, é notória a exploração intensiva das fêmeas nas indústrias e pecuárias, já que são inseminadas artificialmente para dar à luz constantemente e, no caso das vacas, também o leite produzido exaustivamente é reflexo desse oportunismo. O sistema reprodutor das fêmeas é incansavelmente utilizado para reduzi-las fisicamente e emocionalmente, independentemente da espécie.
Imagino que os pobres machos oprimidos (vulgo, sexistas especistas) tenham ficado com urticária cerebral depois de lerem isto.




4. Quem é o meu Próximo?
Autoria Paulo Borges
Data da primeira publicação 2014

Livro (português)

Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Paulo Borges pretende, com este livro, transmitir a importância de uma consciência e de uma ética globais, anulando a instrumentalização do outro, seja animal, humano ou natureza. Com a desconsideração dessa instrumentalização, a visão do planeta como um todo inseparável surge no nosso âmago espiritual e moral, substituindo deste modo o modelo tradicional antropocêntrico e especista por um sentimento de comunidade entre todos os seres vivos.
Quem é o meu Próximo trata-se de um conjunto de ensaios e textos de intervenção por uma visão unificada do planeta, desafiando o perfil ético-moral fragmentado que actualmente é defendido, praticado e vivido.


5. Sim! Os Animais Têm Direitos

Autoria André Nunes
Data da primeira publicação 2015

Livro (português)

Será que exigir direitos para os animais é incompatível com a vida humana? Respondendo aos argumentos especistas, o autor leva-nos a pensar em questões que nunca tinham passado pela nossa cabeça (tendo em conta que explorar e matar animais tornou-se tão mecânico nos nossos dias que acaba por não ser grande objecto de reflexão). Com uma abordagem filosófico-jurídica, este livro é obrigatório tanto para defensores dos animais como aos especistas mais acérrimos. Aos últimos, convido-os a saírem da bolha dogmática e a desafiarem os seus valores com a leitura desta obra.
Quando se diz que a decisão de considerar o bem-estar dos animais é uma questão de escolha e de atitude pretende-se tão somente afirmar o poder que cada um de nós tem para, independentemente da permissão da lei, optar por não exercer esse mesmo poder.


6. Why We Love Dogs Eat Pigs & Wear Cows: An Introduction To Carnism

(PT: Porque Gostamos de Cães, Comemos Porcos e Vestimos Vacas)
Autoria Melanie Joy
Data da primeira publicação 2009

Livro (português)
books.google (amostra, português do Brasil)

Melanie Joy é psicóloga social e concebeu o termo carnismo para designar o sistema de crenças que justifica a matança de certos animais para o consumo da sua carne. Neste sistema é defendida a classificação de alguns animais como comida, o que excluí esses mesmos animais daquilo que é considerado crueldade caso fosse aplicado a outras espécies. Isso explica porque na cultura ocidental, por exemplo, comemos porcos e vacas sem questionar a crueldade inerente nessa acção aparentemente tão inofensiva, ao mesmo tempo que adoramos e defendemos cães.
O livro é uma análise ao comportamento generalizado das pessoas em relação aos animais e como estas são capazes de sentir compaixão por uns e desprezar totalmente outros. Essa compaixão selectiva é conhecida como paradoxo da carne, no qual as pessoas opõem-se a maus-tratos e, ao mesmo tempo, cometem atitudes que envolvem esses maus-tratos.


7. The Emotional Lives of Animals: A Leading Scientist Explores Animal Joy, Sorrow, and Empathy and Why They Matter

(PT: A Vida Emocional dos Animais)
Autoria — Marc Bekoff
Data da primeira publicação — 2007

Livro (português)
PDF (inglês)

Biólogo e etólogo, Bekoff apresenta a variedade das emoções presentes nos animais. Esta obra científica não descura, porém, as proposições éticas relacionadas com os direitos dos mesmos.
Pegando nas descobertas científicas mais recentes, o autor confirma a senciência dos animais não-humanos (algo que, no fundo, todos nós sabemos instintivamente) e como as emoções são tão importantes para eles como para nós. É a partir daí que o manto moral começa a ser tecido, referindo a senciência como energia essencial dos motores do conhecimento, do pensamento e do sentimento. É a partir da senciência que afirmarmos, no universo humano, que temos direitos naturais e fundamentais: porque, então, não abrir essa consideração para os animais, visto que estes são, igualmente, sencientes?
Pelo seu cariz científico a leitura deste livro é obrigatória para todos, especialmente para aqueles que continuam a não se importar com os animais e a capacidade que estes têm de sentir. Marc Bekoff também desenvolve outros estudos cruciais, desde a maneira como os animais pensam e demonstram-se possuidores de consciência, auto-consciência e até mesmo de empatia e compaixão.


8. Introduction to Animal Rights: Your Child or the Dog?

Autoria — Gary L. Francione
Data da primeira publicação — 2000

Livro (inglês)
PDF (introdução, inglês)

Crítico das condutas bem-estaristas, levadas a cabo tanto por organizações como por particulares, Gary L. Francione desafia-nos a abandonar as nossas habituais desculpas compassivas e humanitárias e a reconhecer que tratamos os animais como coisas que não são levadas muito a sério. Total defensor do abolicionismo, frisa irredutivelmente que os animais têm o pleno direito de não serem considerados propriedade. No livro, através de exemplos e analogias, denuncia a nossa incoerência entre o que acreditamos sobre os animais e como acabamos por tratá-los.


9. The Pig Who Sang to the Moon: The Emotional World of Farm Animals

(PT: O Porquinho que Cantava à Lua)
Autoria Jeffrey Moussaieff Masson
Data da primeira publicação 2003

Livro (português)

Depois do livro Quando os Elefantes Choram, centrado na vida dos animais selvagens, Masson dedica esta obra aos animais de criação. Com provas irrefutáveis, frutos de profundos estudos que duraram cinco anos, o autor mostra que estes animais são detentores de sentimentos e até mesmo de consciência. É, assim, dada voz a estes seres que são tratados com indignidade: ordenhados, tosquiados, mortos e consumidos, há muito que o ideal de felicidade é-lhes rejeitado pelo ser humano, ávido de colocar as suas vontades mais supérfluas acima das suas vidas.


10. R-209. Habla el Frente de Liberación Animal


Livro (espanhol)
PDF (espanhol)

R-209 é o código utilizado pela polícia sueca para definir delitos relacionados com resgates de animais. Sem autoria definida e exclusivamente editado em espanhol pela anti-especista Ochodoscuatro Ediciones, é uma compilação dos testemunhos de quem está à frente da ALF (Animal Liberation Front), um movimento nascido na Inglaterra e que, desde então, tem combatido ferozmente acções especistas. Esta desobediência vegana é, aqui, partilhada por alguns desses membros, mostrando a importância da libertação animal como ponto fulcral para o respeito de toda e qualquer forma de vida, independentemente da sua raça, sexo ou espécie.