14/03/2018

Estudantes de Coimbra decidem acabar com garraiada na Queima das Fitas


Depois da polémica da garraiada nos últimos anos, a Universidade de Coimbra decidiu formar um referendo que ocorreu ontem, no dia 13 de Março, para que os estudantes votassem contra ou pela continuidade dessa prática. Os resultados são incontestáveis: dos 5638 estudantes que votaram, 70.7% responderam “Não” à pergunta “Deve o evento garraiada continuar no programa oficial da Queima das Fitas?”, contrastando com os 26.7% que responderam “Sim”. Por fim, também foram contabilizados 49 votos nulos e 96 em branco.

No entanto, de acordo com Manuel Lourenço, secretário-geral da Comissão Organizadora da Queima das Fitas, a palavra final será do Conselho dos Veteranos, um dos órgãos tutelares da Queima das Fitas e que rege as actividades tradicionais. Manuel Lourenço acredita que o Conselho de Veteranos honrará a vontade dos estudantes, até porque já foi dito que assim seria feito.

Apesar do universo de 24 mil estudantes, a afluência às urnas foi considerada significativa. O referendo decorreu entre as 10:30 e as 23:59, com urnas abertas em todas as faculdades da Universidade de Coimbra. Destaque-se o trabalho do grupo Queima das Farpas, que foi incansável a divulgar a importância desta votação e o porquê da garraiada ser totalmente incompatível com a vida académica, já que a primeira assenta numa crueldade primitiva e a segunda na evolução cívica e intelectual.

Em Fevereiro, a Comissão Central, parte integrante da Comissão Organizadora da Queima das Fitas, decidiu, por unanimidade, propor a abolição da garraiada como evento tradicional da festa. Isso levou ao Conselho de Veteranos e à Associação Académica de Coimbra a acordarem na realização de um referendo aos estudantes. A proposta da abolição da garraiada surgiu face a protestos no seio da academia contra a continuação do evento.

Se tudo correr bem e o Conselho de Veteranos for conivente com a votação dos estudantes, Coimbra juntar-se-á ao Porto que, em 2016, suspendeu a garraiada académica pela fraca adesão, reflexo da queda da tradição tauromáquica.

Também é preciso frisar que a rejeição da garraiada pelos estudantes não impedirá a realização da mesma mas será um gigante obstáculo para tal, já que não será mais organizada com o dinheiro e o símbolo da Associação Académica de Coimbra.

Os custos da garraiada

De acordo com a Queima das Farpas, as garraiadas comportam prejuízos que atingem valores exorbitantes. Abaixo segue o gráfico dos custos das garraiadas realizadas no período de 2008 a 2016, segundo os dados oficiais dos Relatórios e Contas da Tesouraria da Associação Académica de Coimbra.


A crueldade presente

Só o facto de um animal ser usado como entretenimento já devia ser considerado exploração e crueldade mas ainda estamos longe de compreender isso. A garraiada consiste em usar um garraio (um touro jovem que ainda não foi corrido) num cercado, no qual várias pessoas desafiam-no e atiçam-no. Para além dos bovinos serem muito sensíveis, antes do evento são deixados sem alimento por horas, com o intuito de enfraquecê-los para que não tenham muitas possibilidades de defesa. Contrariamente ao que os pró-tauromáquicos afirmam, existe muita violência física nas garraiadas: os animais são sujeitos a socos, pontapés, empurrões e puxões de cauda, sendo que estes últimos podem provocar uma luxação das vértebras. Não obstante, a violência psicológica está irrevogavelmente presente, já que o animal é atormentado e não tem como fugir.

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Notícia via Diário de Notícias
Imagem: Vida Animal